Lílian do Valle

Professora titular de Filosofia da Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde ingressou em 1984, graduou-se em Pedagogia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1978), tendo-se doutorado em 1982 na Universidade de Paris V – René Descartes, com tese sobre as representações do lazer dos trabalhadores pelas ciências sociais brasileiras. Realizou, por mais de duas décadas, estudos e pesquisas sobre as origens da escola pública, interessando-se pela gestão do tempo livre das crianças em idade escolar e, em seguida, pela crítica ao cognitivismo. Realizou, em 1991 e 2007, estágios de pós-doutorado na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Traduziu obras de Nicole Loraux, Cornelius Castoriadis e Jacques Rancière. Foi responsável pelo projeto de criação dos programas de pós-graduação Memória Social e Documento, da Unirio, e Políticas Públicas e Formação Humana, da Uerj, que ajudou a implantar e credenciar. Publicou, entre outros, A Escola Imaginária (DPA, 1997) e Enigmas da Educação (Autêntica, 2001).

Em sua investigação atual dedica-se à crítica da antropologia ocidental e sua predileção por oposições tais como pensamento x atividade, eu x outro, interior x exterior, razão x sensibilidade, que têm como ponto de origem e de confluência a oposição alma x corpo imperou desde a Antiguidade, sob influência platônica. Enfatizam-se as noções de corporeidade e presença, principais operadores da crítica a ser realizada à clivagem de que derivaram a perda da corporeidade e do mundo características do «sujeito isolado»; ao projeto de modernidade civilizatória, que legitimou a colonialidade e a «diferença colonial» (Mignolo); à «grande divisão» (Latour) natureza/sociedade, que justificou o comportamento predatório em relação ao terrestre; e à oposição nacional x mundial, que, buscando responder à crise da representação política, dificilmente dá conta das novas exigências cosmopolíticas de que depende a renovação do projeto democrático. Pretende-se, muito especialmente, analisar o potencial da arte para a instalação de uma cultura cosmopolita, capaz de, religando o sujeito a seu corpo e ao mundo, favorecer o acolhimento do diverso e a criação de uma nova disposição frente à pluralidade e aos desafios dos tempos atuais.

Projeto de pesquisa:

Cosmopolíticas da formação humana: recuperar o corpo-mundo

Em prosseguimento a pesquisas anteriores, a presente investigação  dedica-se à crítica das definições antropológicas herdadas pela tradição ocidental e sua predileção por oposições tais como pensamento (consciência)/atividade (movimento), eu (individuação)/outro (socialização), interior/exterior, teoria x prática, razão x sensibilidade. Levando à fratura dos modelos educativos e à evidente inadequação dos esquemas mentais e dos conceitos antropológicos em vigor para lidar com as exigências da formação humana na atualidade, essas clivagens têm, todas elas, como ponto de origem e de confluência a oposição alma/corpo que na Antiguidade, sob influência platônica, se forjou, transformando-se em seguida em marca absoluta do pensamento ocidental. Fazer-se corpo é, assim, uma injunção triplamente significada: como atitude intelectual, afirma a importância do testemunho do particular, da reflexão encarnada, da experiência sensível, tal como a arte pode propiciar; como metáfora, alude ao enraizamento em uma história e uma cultura compartilhadas e, portanto, a uma militância; como projeto, implica em buscar, com as armas do sensível, estar presentes no mundo compartilhado, vastíssimo mundo da multiplicidade humana, que a arte descortina. Enfatizam-se as noções de corporeidade e presença, principais operadores da crítica a ser realizada (a) à clivagem corpo x alma, de que derivaram a perda da corporeidade e do mundo características do «sujeito isolado»; (b) ao projeto de modernidade civilizatória, que legitimou a colonialidade e a «diferença colonial» (W. Mignolo); (c) à «grande divisão»  (B. Latour) natureza/sociedade, que justificou o comportamento predatório em relação ao terrestre; (d) à oposição nacional x mundial, que, buscando responder à crise da representação política, dificilmente dá conta das novas exigências cosmopolíticas de que depende a renovação do projeto democrático.

Pretende-se, muito especialmente, analisar o potencial da arte para a instalação de uma cultura cosmopolita, capaz de, religando o sujeito a seu corpo e ao mundo, favorecer o acolhimento do diverso e a criação de uma nova disposição frente à pluralidade e aos desafios dos tempos atuais.